segunda-feira, 23 de abril de 2012

Trovadorismo


         Trovadorismo, também conhecido como Primeira Época Medieval, é o primeiro movimento literário da língua portuguesa. Iniciou-se em 1189 (ou 1198) em plena Idade Média no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII; porém, as suas origens deram-se na Occitânia, de onde se espalhou por praticamente toda a Europa. Apesar disso, a lírica medieval galaico-português possuiu características próprias, uma grande produtividade e um número considerável de autores conservados.

Origem do Trovadorismo

         A mais antiga manifestação literária galego-portuguesa que se tem notícia é a "Cantiga da Ribeirinha", também chamada de "Cantiga da Garvaia", composta por Paio Soares de Taveirós provavelmente no ano de 1189 (ou 1198, há rasuras na datação).
        Por essa cantiga ser a mais antiga registrada, convem-se datar daí o início do Lírica medieval galego-portuguesa. Ela se estende até o ano de 1418, quando se inicia o Quinhentismo em Portugal e na Galiza se inicam os chamados Séculos Escuros.
         Trovadores eram aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam, e cantigas são as poesias cantadas. Quem tocava e cantava as poesias recebia o nome de Jogral (normalmente o Jogral era o próprio trovador).
As cantigas eram manuscritas e colecionadas nos chamados Cancioneiros (eram livros antigos, que reuniam grande número de trovas). São conhecidos três Cancioneiros: o "Cancioneiro da Ajuda", o "Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa" e o "Cancioneiro da Vaticana".


Trovadores e Jograis

          Os trovadores geralmente pertenciam à pequena nobreza, embora alguns reis tivessem sido poetas. A literatura oral foi divulgada por jograis – recitadores, cantores e músicos que perambulavam por feiras, aldeias e castelos. A poesia, ligada à música, era composta pelos trovadores e cantada pelos jograis e menestréis.


Principais Manifestações Literárias

         A principal manifestação literária do Trovadorismo foi a poesia, representada pelas cantigas, que eram composições feitas para serem cantadas ou acompanhadas por instrumento musical.
       As cantigas medievais portuguesas eram expressas na chamada “medida velha”, as redondilhas, versos de cinco ou sete sílabas, de tradição medieval. O idioma empregado era o galaico-português, comum à Galícia e a Portugal. O poeta chamava-se trovador e as cantigas podiam ser líricas ou satíricas. Elas encontram-se reunidas em volumes denominados cancioneiros, dos quais se destacam o   Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa.
         A prosa medieval apresentou caráter predominantemente documental, o que diminuiu seu valor literário. Apenas um gênero se destacou: as Novelas de Cavalaria, que eram narrativas de feitos heroicos e guerreiros, originadas nas antigas canções de gesta. Em Portugal, apenas as novelas do Ciclo Bretão ou Arturiano, sobre o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, deixaram marcas.

Os Tipos de Cantigas

Dentro do Trovadorismo galeco - português, as cantigas costumam ser divididas em:

* Líricas : Cantigas de Amor e de Amigo
* Satíricas: Cantigas de Escárnio e Cantigas de Maldizer 

  * Cantiga de Amor

         O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível.Mas nunca consegue conquistá-la, porque tem medo e também porque ela rejeita sua canção.
         Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).




         Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada.
      São tipos de Cantiga de Amor: 

 * Cantiga de Meestria: é o tipo mais difícil de cantiga de amor. Não apresenta refrão, nem estribilho, nem repetições (diz respeito à forma.)

* Cantiga de Tense ou Tensão: diálogo entre cavaleiros em tom de desafio. Gira em torno da mesma mulher. 

* Cantiga de Pastorela: trata do amor entre pastores (plebeus) ou por uma pastora (plebéia). 

* Cantiga de Plang: cantiga de amor repleta de lamentos.

Exemplo de lírica galeco - português de Bernal de Bonoval

"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.

A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.

Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.

A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte."


Cantiga de Amigo

         São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares.
        Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (isto é, namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação Suserano x Vassalo, ela é uma mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher, pela ida de seu amado à guerra.

Exemplo de D. Dinis

"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"





Cantiga de Escárnio

O eu-lirico faz um sátira:

* a alguma pessoa;
* de forma indireta;
*cheia de duplos sentidos;
* o nome da pessoa satirizada não é revelado.


         Em cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As cantigas de escárnio (ou "de escarnho", na grafia da época) definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambiguidades, trocadilhos e jogos semânticos, em um processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz. Exemplo de cantiga de escárnio.

Exemplo de cantiga de escárnio:

"Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia! (...)"



Cantiga de Maldizer

Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz:
* uma sátira direta e sem duplos sentidos;
* é comum a agressão verbal à pessoa satirizada;
* e muitas vezes são utilizados palavrões;
* o nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.
Exemplo de cantiga de Joan Garcia de Guilhade:

"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!" 




Principais Autores do Trovadorismo:


Os mais conhecidos trovadores foram: João Soares de Paiva, Paio Soares de Taveirós, o rei D. Dinis, João Garcia de Guilhade, Afonso Sanches, João Zorro, Aires Nunes, Nuno Fernandes Torneol.

Mas aqui serão citados apenas alguns.
* Paio Soares Taveirós
Paio Soares Taveiroos (ou Taveirós) era um trovador da primeira metade do século XIII. De origem nobre, é o autor da Cantiga de Amor A Ribeirinha, considerada a primeira obra em língua galaico-portuguesa.
* D. Dinis
Dom Dinis, o Trovador, foi um rei importante para Portugal, sua lírica foi de 139 cantigas, a maioria de amor, apresentando alto domínio técnico e lirismo, tendo renovado a cultura numa época em que ela estava em decadência em terras ibéricas.
* D. Afonso X
D. Afonso X, o Sábio, foi rei de Leão e Castela. É considerado o grande renovador da cultura peninsular na segunda metade do século XIII. Acolheu na sua corte e trovadores, tendo ele próprio escrito um grande número de composições em galaico-português que ficaram conhecidas como Cantigas de Santa Maria. Promoveu, além da poesia, a historiografia, a astronomia e o direito, tendo elaborado aGeneral Historiaa Crônica de EspañaLibro de los JuegosLas Siete PartidasFuero RealLibros del Saber de Astronomia, entre outras.
* D. Duarte
D. Duarte foi o décimo primeiro rei de Portugal e o segundo da segunda dinastia. D. Duarte foi um rei dado às letras, tendo feito a tradução de autores latinos e italianos e organizando uma importante biblioteca particular. Ele próprio nas suas obras mostra conhecimento dos autores latinos.
Obras: Livro dos ConselhosLeal ConselheiroLivro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela.
* Fernão Lopes
Fernão Lopes é considerado o maior historiógrafo de língua portuguesa, aliando a investigação à preocupação pela busca da verdade. D. Duarte concedeu-lhe uma tença anual para ele se dedicar à investigação da história do reino, devendo redigir uma Crônica Geral do Reino de Portugal. Correu a província a buscar informações, informações estas que depois lhe serviram para escrever as várias crônicas (Crônica de D. Pedro ICrônica de D. FernandoCrônica de D. João ICrônica de Cinco Reis de Portugal e Crônicas dos Sete Primeiros Reis de Portugal). Foi “guardador das escrituras” da Torre do Tombo.
* Frei João Álvares
Frei João Álvares a pedido do Infante D. Henrique, escreveu aCrônica do Infante Santo D. Fernando. Nomeado abade do mosteiro de Paço de Sousa, dedicou-se à tradução de algumas obras pias:Regra de São Bento, os Sermões aos Irmãos do Ermo atribuídos a Santo Agostinho e o livro I da Imitação de Cristo.
* Gomes Eanes de Zurara
Gomes Eanes de Zurara, filho de João Eanes de Zurara. Teve a seu cargo a guarda da livraria real, obtendo em 1454 o cargo de “cronista-mor” da Torre do Tombo, sucedendo assim a Fernão Lopes. Das crônicas que escreveu destacam-se: Crônica da Tomada de CeutaCrônica do Conde D. Pedro de MenesesCrônica do Conde D. Duarte de Meneses e Crônica do Descobrimento e Conquista de Guiné.










                                         
                                        






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