
Tem inicio com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor e termina com o retorno de Sá de Miranda da Itália. Período de grande desenvolvimento da prosa e decadência da poesia (estando toda produção poética do período ligada ao Cancioneiro Geral, conjunto de poesias palacianas). Desenvolvimento do teatro popular, com a produção de Gil Vicente. O Humanismo marca a transição de um Portugal caracterizado por valores puramente medievais para uma nova realidade mercantil, em que se percebe a ascensão dos ideais burgueses. A economia de subsistência feudal é substituída pelas atividades comerciais; inicia-se uma retomada da cultura clássica, esquecida durante a maior parte da Idade Média; o pensamento teocêntrico é deixado de lado em favor do antropocentrismo. Fortalecimento da monarquia com a Revolução de Avis e comprometimento da burguesia mercantil. Desse compromisso resulta a expansão ultramarina portuguesa com a tomada de Ceuta, primeira conquista ultramarina de muitas outras. Essa grandiosidade leva Camões, em Os Lusíadas, a afirmar que o sol estava sempre a pino no império português.
O Humanismo caracteriza-se por uma nova visão do homem em relação a Deus e, em relação a si mesmo. Essa nova visão decorre diante da nova realidade social e econômica vivida na época.
A pirâmide social da era Medieval, já não existe mais (essa pirâmide era formada pelos Nobres / Clero / e Povo), graças ao surgimento de uma nova classe social: a Burguesia, cujo nome se origina da palavra burgos que quer dizer cidade.
O surgimento das cidades deve-se ao incremento do comércio que era a base de sustentação dessa nova classe social. As cidades por sua vez, oferecem uma nova opção de vida para os camponeses que abandonam o campo. Esse fato iniciou o afrouxamento do regime feudal de servidão.
Nessa época também tem início as grandes navegações, que levam as pessoas a valorizar crescentemente as conquista humanas. Esses fatores combinados levam a um processo que atinge seu ponto máximo no Renascimento.
Como conseqüência dessa nova realidade social, o Teocentrismo pregado e defendido durante tantos anos pelas classes anteriores, passa a dar lugar para o Antropocentrismo, nova visão onde o homem se coloca como sendo o centro do Universo.
Na cultura, esse processo de mudanças também tem efeitos culturais pois, o homem passa a se encarar como ser humano, e não mais como a imagem de Deus.
Todas as Artes passam a expressar novas partículas que apareceram com essa nova visão, as pinturas os poemas e as músicas da época por exemplo, tornam-se mais humanas, passam a retratar mais o ser humano em sua formação
Poesia Palaciana
Compreende a chamada poesia palaciana, documentada através de uma coletânea feita por Garcia de Resende e publicada em 1516 com o nome Cancioneiro Geral. A leitura dessa coletânea mergulha-nos em plena vida palaciana. A corte ainda concentrada em torno do rei buscava novas formas de diversão e passatempos. A maioria das composições do Cancioneiro Geral destinava-se aos serões do paço, onde se recitava, disputavam concursos poéticos, ouviam música, galanteavam, jogavam, realizavam pequenos espetáculos de alegorias ou paródias. Tudo isso feito pelos nobres, tendia a apurar-se, os vestuários, os gestos, os penteados e a linguagem mantendo forte influência da corte.
Nessa época a poesia, enfim, pode ter sua autonomia e separar-se da música, ou seja, até então todas as poesias eram feitas para serem musicadas, e a partir desse momento, as poesias puderam ser apenas declamadas, sem acompanhamento usando apenas a voz do poeta.
A poesia palaciana, assim chamada porque surgiu dentro dos palácios, era feita por nobres e para a nobreza, retratando usos e costumes da corte. Era cultivada pela aristocracia nos serões (saraus).
Desenvolvida nos anos de 1400, ficou também conhecida como poesia quatrocentista. Ao contrário da poesia trovadoresca que estava associada à música e era cantada ou bailada, a poesia palaciana era composta para ser lida ou declamada nas cortes. De modo que seus autores trabalhavam com maior zelo o poema. Por isso, a poesia palaciana caracterizava-se por ser mais apurada, atraente e variada do que a trovadoresca, embora com certa artificialidade e pobre em conteúdo.
Inspiravam-se os poetas palacianos nos feitos históricos, na dramaticidade, no lirismo sentimental, sutil e sofisticado (predominante) sem abandonar, contudo, temas comuns aos trovadores medievais: a coita amorosa, a súplica triste e apaixonada e a sátira.
A métrica empregada eram as redondilhas que podiam ser de dois tipos: a rendodilha maior (com sete sílabas) e a menor (com cinco sílabas) e era normal o uso do mote (tema, motivo). Havia os subgêneros como:
O Vilancete composto por um mote de 2 ou 3 versos, seguido de glosa (desenvolve um mote, em geral em tantas estrofes quantos são os versos deste e acabando cada estrofe com um deles).
A Esparsa: expressava tristeza ou melancolia, geralmente, composta de 8 a 16 versos em somente uma estrofe, não tinha mote nem a repetição dos versos.
A Cantiga expressava temas amorosos, tinha o mote de 4 ou 5 versos ou de uma glosa de 8 a 10 versos.
A Trova não tinha tema definido, mas devia ter 4 versos ou 8 versos. Eram muito utilizadas tanto em poemas curtos como nos longos.
À Redondilha maior era a métrica comum destes subgêneros.
Todas as poesias desse período, cerca de mil poesias de 286 autores, dos mais variados tipos (da poesia religiosa a sátira), estão reunidas no Cancioneiro Geral de Garcia Resende, publicado em 1516. Entre os poetas mais destacados dessa antologia poética contam-se o próprio Garcia de Resende, João Ruiz de Castelo Branco, Jorge d' Aguiar, Aires Teles, Gil Vicente, Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda, entre outros.
O Teatro de Gil Vicente
Convivem no teatro vicentino a sátira social mordaz e profunda, sempre vazada com extremo bom humor, e uma crença sincera nos valores de um cristianismo autentico, da base ascética. Gil Vicente, ao criticar os vícios da sociedade de sua época, coloca - se na posição de um defensor da mundividência crista. Sua intenção era a busca de uma reformulação social que tornasse cotidianos a pratica dos valores espirituais e o cultivo das virtudes como preparação para o encontro das almas com Deus.
Nesse sentido, Gil Vicente fez um teatro de ideias, que raramente tocou a investigação psicológica. Seus personagens são verdadeiros tipos sociais ou, em muitos casos, personificações ( como a igreja ou a fé) e entidades da mitologia crista (anjos, diabos, santos), que desfilam diante dos nossos olhos, expondo de forma polemica ideias de reforma de uma sociedade corrompida porque abandonou as verdadeiras virtudes.
Escritas em versos, com predomínio acentuado das redondilhas maiores, as peças vicentinas expõem uma ampla variedade linguística, já que o autor se preocupava em caracterizar seus personagens também pelo modo de falar. Há textos em português, textos em castelhano e textos bilíngues. Várias formas dialetais foram também registradas. A linguagem das peças é predominante popular, rica em expressões coloquiais. o lirismo do autor foi expresso principalmente em cantigas populares, que , ao lado de danças folclóricas tradicionais, introduzem uma nota colorida em muitas peças.
*O teatro foi a manifestação literária onde ficavam
mais claras as características desse período.
*Gil Vicente foi o nome que mais se destacou, ele
escreveu mais de 40 peças.
*Sua obra pode ser dividida em 2 blocos:
*Autos: peças teatrais cujo assunto principal é a
religião.
*“Auto da alma” e “Trilogia das barcas” são alguns
exemplos.
*Farsas: peças cômicas curtas. Enredo baseado no
cotidiano.
*“Farsa de Inês Pereira”, “Farsa do velho da horta”, “Quem tem farelos?”
são alguns exemplos.
Prosa
Crônicas:
registravam a vida dos personagens e acontecimentos históricos. Fernão
Lopes foi o mais importante cronista (historiador) da época, tendo sido
considerado o “Pai da História de Portugal”. Foi também o 1º cronista que
atribuiu ao povo um papel importante nas mudanças da história, essa importância
era, anteriormente atribuída somente à nobreza.
* Fernão Lopes
Cronista histórico lusitano nascido em Lisboa, Portugal, considerado precursor dos modernos métodos historiográficos e criador da prosa ensaística de língua portuguesa. De uma família de camponeses, teria freqüentado a Escola Catedral de Lisboa. Notabilizou-se quando trabalhou (1418-1454) como Guarda-Mor das escrituras da torre do Tombo, em Lisboa, no reinado de D. João I, quando também foi escrivão dos livros do rei e do infante e, depois, tabelião para todo o reino e senhoria da coroa. Por ordem do infante D. Duarte, começou (1419) a redigir a Crónica dos Sete Primeiros Reis de Portugal, uma obra dividida em três etapas que iam desde o século XIV até seu tempo e que restam poucos manuscritos incompletos e três volumes integralmente preservados: Crônicas del-rei D. Pedro, Crônica del-rei D. João I e Crônica del-rei D. Fernando. Ao subir ao trono, D. Duarte, concedeu-lhe uma tença de 14 000 réis anuais uma carta de nobreza como reconhecimento pelos seus méritos e o título vassalo de el-rei (1434). Devido a idade avançada teve que deixar seu trabalho na Torre do Tombo (1454) e ser substituído no cargo de guardador das escrituras do Tombo por Gomes Eanes de Zurara, e morreu presumivelmente em Lisboa. Em sua obra descreveu com brilhantismo todos os acontecimentos, especialmente bélicos, políticos, econômicos e sociais, valorizando as fontes documentais e dados obtidos com testemunhas de comprovada fidedignidade. Procurou identificar as causas dos acontecimentos e explicá-los do ponto de vista político e econômico, o que o levou até criticar os reis a que servia e mostrar-se simpático às classes subalternas. Criou a prosa literária da língua portuguesa em sua modalidade ensaística e factual, a concepção popular da história, marcada sobretudo pela imparcialidade que se esforçou por manter.